EVOLUÇÃO DA VAQUEJADA

04/03/2011 14:25

 

Evolução da vaquejada

 

O historiador Camâra Cascudo dizia que por volta de 1810 ainda não existia a vaquejada, porém já se tinha conhecimento de uma atividade bem parecida, que era a "derrubada de vara de ferrão" praticada na Europa, mais precisamente em Portugal e Espanha. Possivelmente essa prática européia espirou os precursores da vaquejada, que teve seus primeiros registros na região do Seridó, no estado do Rio Grande do Norte, mais precisamente na cidade de Currais Novos, onde entre os anos de 1860 e 1890 acontecia uma tradicional apartação e feira de gado.

 

Sabe-se que em meados da década de 40 os vaqueiros de várias partes do Nordeste, começaram a tornar público suas habilidades nas corridas de mourão, que eram provas de coragem e bravura dos vaqueiros. Nesse período os principais incentivadores foram os Coronéis e Senhores de Engenho, que passaram a organizar torneios de vaquejada, onde o vaqueiro era o competidor e os coronéis e senhores de engenho os apostadores, o vaqueiro nesse tempo recebia apenas um agrado pelas suas conquistas.

 

Na década de 50 os torneios começaram a migrar das fazendas para as vilas e centros urbanos do nordeste, e deixava-se de ser divertimento apenas dos coronéis e seus familiares, e passavam a atingir uma massa maior de público. Nesse período as pistas eram improvisadas, sem ser forrada, os acidentes com vaqueiros e animais eram freqüentes, e não havia faixa demarcada para derruba do boi, ganhava quem derrubava mais rápido, mas começava nesse tempo a ser cobrado valores dos participantes (senhas) e o prêmio distribuídos, formato de bolão. As montarias eram de raça comum, utilizavam os cavalos da lida.

 

 

Fig.1: Vaquejada na década de 60, estrutura improvisada.

 

Entre as décadas de 60 e 70, surgem às primeiras vaquejadas com utilização de faixa de 6 metros, era a fase do boi de arrasto onde era permitido derrubar fora das faixas e arrastar para dentro delas, nesse tempo a força prevalecia a técnica. A animação ficava por conta das difusoras e tocava-se Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Marinês. Na década de 70 começam a introduzir cavalos de porte maior, com o cruzamento de animais comuns com de sangue inglês, obtendo animais com boa velocidade, porém com pouco senso de gado.

 

Na década de 80, surge a nova regra, onde a faixa aumenta passa para 10 metros, e a força não é mais diferencial entre os vaqueiros, a técnica passa a ser mais importante. Surgem às grandes premiações, com carros nas cabeças das festas, e as atrações musicais já ficavam por conta de Galego Aboiador, Vavá Machado e Marcolino, Elba Ramalho, Alcimar Monteiro, Eliane, Jorge de Altinho e Dominguinhos. Nesse período começa a introdução da raça Quarto de milha na vaquejada, que é um animal veloz e com senso de gado, baseando se na genética importada pelo Grupo King Ranch (El Zorrero, Dan's Boy Skiip, Failas Amabasador, Zanador e etc), porém acreditava-se nessa época que o grau de sangue ideal era o mestiço (1/2 sangue, 3/4 e 7/8), havia a lenda de que cavalo puro afrouxava, de certo modo tinha-se razão, o problema estava na doma dos animais, que era feita de forma inadequada, com muita força bruta e pouca técnica, animais puros buscavam a autodefesa.

 

Na década de 90 a vaquejada se profissionaliza, surgem as grandes equipes, os parque constroem grandes estruturas, as organizações saem do poder público e passam para o privado, nascem os circuitos de vaquejada (Circuito Brahma, Circuito Mastruz com Leite e Circuito Ford) que tentam fidelizar os vaqueiros. Surgem grandes bandas de forrós como: Mastruz com leite, Limão com mel, Mel com Terra, cavalo de Pau, Sirano e Sirino, João Bandeira, Luizinho de Irauçuba e etc. Podemos citar como grande contribuinte e incentivador da vaquejada o Sr. Emanoel Gurgel, que é o fundador da Banda Mastruz com Leite e outras. Na década de 90 é introduzida uma nova raça na vaquejada, que é o Apallosa, e teve como principal fomentador o Haras Salgadinho (Juazeiro do Norte/CE) de propriedade de Ivanoé Bezerra, onde o primeiro cavalo a conseguir espaço junto aos Quarto de milha que reinavam absoluto nessa época, foi o Garanhão Arapongas Top Bristly (Cara de Rato), que conquistou vários prêmios na sela de Zezinho/CE, e até hoje filhos do Cara de rato se classificam nas grandes vaquejadas, como o cavalo e a égua da Equipe Tecnolity, na sela do Zé Filho/CE.

 

Nos anos 2000 os grandes empresários vêem na vaquejada um novo filão, com grandes  oportunidades de ganhar dinheiro, ela deixa de ser hoby e passa a ser uma nova atividade lucrativa, isso acontece com a introdução de grandes shows artísticos (aumento do público), leilões de cavalos Quarto de milha/Apaloosa/Paint horse, venda de animais por grandes valores (R$ 300.000,00 Cavalo do Eldo Batista). Os vaqueiros passam a cobrar melhores estruturas dos parques e dos caminhões, onde estes se transformam em verdadeiras casas móveis, com cozinha, quarto, banheiro e etc. Nessa fase podemos destacar o Sr. Jonatas Dantas, como um dos pioneiros do novo filão, ele é proprietário da equipe/parque e haras Ana Dantas. No inicio do novo século acontece à introdução da linhagem de velocidade (corrida) na vaquejada, onde o pioneiro foi o cavalo Silver Wild SLN (Rochão), que é descendente do Dash for Cash, e de propriedade do Haras Ana Dantas, em seguida é introduzido filhos de Apolo VM, Blazen Bryan, Tolltac, Lady' Moon e etc, a ABQM cria o potro de futuro e congresso nacional de vaquejada. Outra novidade foi o aumento do colorido dos eqüinos, com a introdução dos cavalos da Paint Horse, onde alguns animais se destacam na posição de puxar, porém obtêm maior êxito na posição de esteira. As atrações musicais de diversificam, não ficando restrito a ritmos nordestinos, os shows ficam por conta de grande duplas sertanejas, e no forró destacam-se as bandas aviões do forró, Garota Safada, Calcinha preta e Forró do muído. Em 2001 a profissão de peão de vaquejada é regulamentada pela lei nº 10.220. Outro fator importante que agregou público a vaquejada foi a criação da categoria amador, onde tornou a competição mais justa.

 

 

 Fig 2: Parque Ana Dantas em Xerém/RJ

 

 

No ano de 2004 acontece a internacionalização da vaquejada, com a realização no Parque Novilha de Prata em Itapebussu - CE, do primeiro campeonato mundial de vaquejada, com a participação de 11 paises: Argentina, Canadá, Costa Rica, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Guatemala, México, Panamá, Uruguai, e mais os melhores competidores de cada estado Brasileiro.

 

Hoje a vaqueja se consolida como um dos principais esportes brasileiros, havendo competição em quase todo território nacional, gerando milhares de empregos, perdendo na movimentação de cifras apenas para o futebol.

 

Régis Tavares é Administrador de Empresas, Amante da Vaquejada, e estudioso da raça Quarto de milha.


A Notícia do Vaqueiro
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